quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Eterna Mulher

Abre essa porta que não chegou a ter fechadura. Entra, sabendo que jamais estiveste aí, nessa casa a que dirás Adeus. Em pontas de fada, sobe as escadas. Vai até ao quarto, abre o armário, retira as roupas que nunca penduraste. Veste-te para uma última festa - que sabes que não chegará a acontecer.

Escolhe o colar que te irá beijar o... pescoço. Aquele que ninguém te irá colocar. Olha-te nesse espelho tipo alma. Ou para essa Alma Tipo Espelho e Dança para esse Homem que não conheceste, nem tão-pouco existiu. Dança o passado que não construíram. Dança a saudade que não terás Tempo de sentir. Sê-te presente. Sê o teu maior presente. Dança Mulher.

Dança junto a essa cama, na qual nunca te deitaste, nem nunca te aconchegaram os lençóis antes de dormir. E, guarda esses passos derradeiros, como quem esconde um segredo, na memória mais recalcada do ter sido plena. Sai, sem que tenhas estado. Foge da sombra que é esse reflexo. Não te gastes mais em danças que não dançaste.

Sabes-te Eterna mesmo assim. Serás lembrada como a Mulher que soube Ser, soube Amar. Perpetuada em histórias de “houve um dia em que vivi. O dia em que a conheci”. Esboçar-se-ão sorrisos ao recordar-te na Imortalidade de ti. Tu, a que se vestiu de Amor o Tempo todo. Tu Mulher. Tu Sonho.

Despe(de)-te.

E vê... continuas a Ser. - @Chandra.

I have a Dream.

Quem me conhece, sabe que além da minha formação em Dança, sou licenciada em Ensino Básico 1ºciclo. Houve um dia, em que alguém que conhecia o meu historial de notas, disse algo como “Acreditas que ela era a melhor aluna da escola e agora é bailarina?”. Bem, quanto a isto não me pronuncio, nem coloco qualquer negatividade, pois sei que quem o disse, não fez por mal. Apenas queria exaltar as minhas qualidades cognitivas. As mesmas que me fizeram querer ser professora, pois eu sei – em primeira mão – o papel que os professores podem assumir nas nossas vidas. Quis ser professora porque os professores, foram sem qualquer sombra de dúvida, algumas das melhores pessoas que tive até hoje na minha vida. Há quem tenha fortes suportes familiares e para outros... Há a escola. A escola que nos acolhe independentemente da nossa história. Os meus professores não sabiam do todo de mim e mesmo assim confiaram. Acima de tudo acreditaram. Olharam para mim e viram-me. Sabiam que eu quando eu faltava, havia uma explicação lógica e não “és uma baldas”, mas mesmo que o fosse, sei que continuariam a mover mundos para que mudasse de rumo. E sei, que lhes devo praticamente tudo. É muito fácil desistirmos quando todos à nossa volta nos dizem que jamais seremos isto e/ou aquilo. Sim, deveríamos querer ser isto e aquilo por nós. Contudo, há pessoas que precisam de um empurrão. Nem todos os dias são solarengos e nem sempre a força é uma companheira fiel.

Sou da opinião de que aquilo que recebemos de bom, devemos retribuir. Um género de corrente do Bem. Decidi ser professora “primária”, pois, todos sabemos que a maior parte dos traumas que encontramos na vida adulta, têm a sua origem na infância . Quis ser aquela que faz a diferença. Aquela de quem se lembrariam quando estivessem bem, felizes e realizados. Ainda não deu para ser no geral, nem nunca o será. Podemos apenas almejar fazer pequenas diferenças. Depois, quase que por acidente, tornei-me professora de dança. Ainda me lembro de ver a minha irmã dançar (tinha eu os meus 10 anos e já algum historial de danças), via-a com as amigas e dizia que um dia iria dançar assim. Jamais, in my wildest dreams, me imaginei como professora, transmissora de tão bela arte. Foram os professores que tive que me incentivaram a seguir este rumo. Sabiam-me mais do que eu própria. E não me arrependo.

Crianças ou adultos, todos necessitamos de alguém que nos faça olhar para o espelho e aceitar as cicatrizes do passado. Alguém que nos ajude a abraçar a nossa história, como sendo parte de nós, mas que não nos define. Há coisas que nos acontecem e não as podemos alterar. São por essas que sofremos. Procuramos respostas que muito dificilmente serão as respostas que queríamos obter. A verdade é que isso aconteceu. O que fazer? Lamentá-lo não adianta. Recalcá-lo muito menos. Aceitar é a chave para que possamos ser pessoas mais felizes. É isto que pretendo transmitir nas minhas aulas de Dança. Somos todas Mulheres. Passamos por situações similares, medos comuns, angústias e também muitos momentos felizes. Como tal, para mim, faz todo o sentido conhecermo-nos.

Primeiro devemos conhecer quem somos. Só depois de nos termos visto, tal como somos, seremos capazes de olhar para os outros, fora de criticas ou julgamentos. Ninguém sabe o que se passa fora daquele estúdio. Ninguém sabe os demónios que residem na mente de cada uma. Ninguém sabe que nem sempre há um sorriso para esboçar, naqueles dias em que tudo o precisamos é de um abraço, um olhar cúmplice, um “estou aqui. Estamos aqui. Juntas seremos”. Digo isto, pois custa-me tremendamente as pessoas que não me respeitam como pessoa que está ali, com todo o carinho, para que lhes proporcionar um momento fora do caos lá fora. Há imensos casos de alunas que desaparecem e simplesmente não dizem mais nada. Contudo, lá está, nem todos somos iguais, nem temos os mesmos valores e/ou problemas. Portanto, é deixar viver e esperar que essas alunas encontrem o seu rumo (mesmo que não seja comigo, mas... estamos todas juntas nesta jornada - ainda que nem sempre o reconheçamos).

I have a dream. E nesse sonho, seremos todas mais unidas e não aquele estereótipo de mulheres/gajas que se sentem fortes com a fragilidade dos outros. Desejo muito sinceramente que sejamos capazes de encontrar essa força dentro de nós e desejar o Bem à pessoa que está ao nosso lado. Senti-lo. Sorri-lo. Enviar esse Amor sob a forma de pensamento. Quando isso acontecer, não iremos dar importância a questões como “esta tem mais jeito do que eu”, “esta é mais bonita do que eu”. Mulheres, vocês são todas Deusas. TODAS. E esta dança deverá exaltar o que vocês têm de melhor. A vossa Beleza. Aquela de que os poetas falam. Aquela que eu vejo quando vos olho e vocês desconhecem. Sonho com um dia em que haverá união, sem juízos de valor. Apenas compreensão e muito muito AMOR.

Mas para isso, sinto que todas nós, precisamos Amar-nos mais. E, nada melhor do que aprendê-lo, dançando-vos. Dançando essa Deusa Interior que reside em cada uma de vocês. E, tal como os meus professores, cá estarei para vos ajudar a ser o melhor que conseguirem Ser.